agosto 18, 2009

Palco


Minha cabeça é uma peça de teatro. Há personagens, conflitos, algumas cenas marcantes... Às vezes me atrevo a dirigir e tomo controle da situação, escolho protagonizar minha própria história e vivo sem limites. Mas quando as atrizes se revoltam nos bastidores, retomam seus papéis. Deixam-me de lado, se expõem como bem desejam. Cheias de cenas vulgares, dramáticas, ridículas. São meninas cheias de vontades e nem consultam a dona da peça para saber se podem realizar suas teimosias.

Eu confesso: perco o controle, perco a vontade de controlar. Aceito o dia-a-dia e a rotina. Aceito ser movida pela minha mente que já não se conforma mais com as matinês. Todos os dias, todas as horas. Lembro e esqueço que devo ser solta para me impor. Cansei de só ocupar espaço sem existir. Tento me fazer acreditar que meu natural agrada mais do que as personagens, mas na prática a história é outra. Ao invés de surpreender a plateia à cada novo espetáculo, repito as falas decoradas sem improvisar nem uma vírgula. Ensaio sorrisos cheios de significado, mas acabo estática de novo.

Quem vai vencer? Quem é o vilão e quem é o mocinho dessa história? Quem vai se sobressair nessa luta por comando? Eu nunca acreditei em bem contra o mal. Ninguém é muito certo ou muito errado e a essa representação exacerbada chega a me revoltar. Eu não sei se eu devo ganhar essa batalha, não sei se tenho condições, se mereço assumir a direção. Talvez essas meninas medíocres aqui dentro sejam mais eu do que eu mesma. Dá pra entender onde eu quero chegar? Esse meu lado consciente, esse momento de sobriedade não é maioria em mim. Que poder tenho sobre os votos de uma população gigantesca de personalidades, todas unidas contra uma só - contra mim?

Meus segundos de lucidez estão chegando ao fim. A cortina se abre, as conversas e as luzes diminuem. Eu me rendo. Se tudo está errado, assim permanecerá. Se este script não me satisfaz, ninguém mais tem que saber. Mais um dia se passou sem que eu exigisse meus direitos. Habito, mas não comando. Sou inquilina de mim mesma e essa prisão é tudo.

Inside my heart is breaking
My make-up may be flaking
But my smile still stays on
The show must go on

12 comentários:

  1. Cara..nao entendo como vc consegue. Ainda ta valendo aquilo ta?! qnd eu crescer qro ser igual a vc. *-*

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  2. De todos os blogs que visito, esse é meu predileto. Está adicionada no MSN, nos falamos por lá. Um beijo!

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  3. "Sou inquilina de mim mesma e essa prisão é tudo"
    Verônica esse texto fico perfeeito!

    Beeijo!

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  4. Ficou ótimo... e meninas medíocres não são mais que tu não. "But my smile still stays on" ;) beijo querida!

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  5. UAL, falou tudo. Somos protagonistas de nossas histórias. O palco é a NOSSA vida. xD amei amei

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  6. "Cansei de só ocupar espaço sem existir."
    Isso é forte!
    O difícil é se perder assim, em nós mesmos!

    Beijo, e boa semana!

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  7. Muito lindo seu blog
    virei sempre
    já add nos favoritos
    quando puder passe no meuw

    Bjuss

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  8. Ahhhh Verônica, sem palavras pros seus textos. Você descreve tudo perfeitamente. E eu amo ler sempre.
    E sabe, é bem disso do ser humano mesmo, se esconder através de mil fantasias pra não desapontar. Acho que isso acontece principalmente na adolescência. Perfeito.
    "Sou inquilina de mim mesma e essa prisão é tudo."
    Beijos.

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  9. Como sempre, texto lindo! Mas, será que não tens mesmo controle sobre cada personagem? Tu sabes exatamente a hora que elas entram em cena. Ou, tens uma boa noção de quando elas entram.
    De qualquer forma, belo texto. Adorei a ligação com teatro. :)

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  10. Ah amei o texto e q bom qtu tb gostou d meu blog!!!!
    ''Sou inquilina de mim mesma e essa prisão é tudo.''

    beijos

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  11. "Ao invés de surpreender a plateia à cada novo espetáculo, repito as falas decoradas sem improvisar nem uma vírgula".

    Realmente machuca, dói não conseguir se expôr como se deseja. As vezes sonha-se em ser "colorido", mas só se consegue ser presença 'opaca'.

    Seus textos me 'marcam', sabia?

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  12. olha... fiquei sem palavras...

    só me vem uma À cabeça: LINDO!!!

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