janeiro 23, 2011

É tanta falta


Vamos no atrasar. Por causa da chuva, por causa da preguiça. Sem culpa. Tem um mundo todo de gente lá fora que pouco importa. O carro bem poderia ter quebrado, ninguém vai saber se a gente não contar. Vamos nos atrasar por querer mais de nós dois.

Fica mais um pouco e me deixa fazer parte da sua história. Quero o seu dia-a-dia na minha rotina e seu colo pra dormir. Quero nossos assuntos em pauta e nossa falta fazendo companhia. Eu quero mais que solidão a dois e inseguranças tristes para preencher cotidiano. Mais que sorrisos inconvicentes e quase amizades convenientes. Eu quero menos. Menos pensamento, menos dúvida. Um equilíbrio e você de brinde.

Vamos nos atrasar, deixar o mundo acontecer do outro lado da porta enquanto a gente discute desenhos animados na cozinha e faz comida para o jantar. Esqueça a música alta, esqueça as pessoas e seus cumprimentos tediosos, é sábado, deixa pra lá. Tudo o que a gente precisa está aqui. Tem eu, tem você, tem uma madrugada inteira de nós dois. E isso é tudo.

janeiro 05, 2011

Tédio


O tempo não corre: flutua pelos minutos num ritmo enlouquecedor de relógio sádico, como se esperasse meu limite pessoal.
As unhas roídas, a insônia, tédio.
A tv ignorada brilha o reflexo na janela contrastando o escuro que toma o resto do quarto. O frio amortece os pés descalços sob o cobertor e a chuva no vidro briga com o volume da televisão.
A tv sem público, as conversas com o cachorro, tédio.
O psiquiatra diz que não é nada, é só tédio.
O tédio que te aguarda, em cada espaço vazio do dia.
O tédio que te segura, em cada momento perdido de ocupação.
São onze horas e o ponteiro do relógio faz questão de me lembrar em cada batida.
TÉDIO. Cinco letras de angústia. Estado de espírito ou substantivo? Não é nada, só tédio.

(Texto feito para o zine Sinep, distribuído em Campinas, SP e disponível para download neste link! http://sinepzine.blogspot.com )